Serenata em Caruaru - Capítulo 1
Estávamos já deitados, preparados para dormir, quando meu marido resolveu me fazer uma serenata, com sua voz rouca e sensual. Ta bom... (não) é (lá) tão sensual assim (os parênteses são dele). Na hora que fechei os olhos ele disse: agora você vai dormir bem gostoso, vou cantar para você. NÃOOOOOOOOOOO!!!! Por favor, deixa eu dormir! É o mesmo que eu falar para ninguém. “Bom dia meu amor, estou chegando agora, o dia já raiou, passei a noite fora. Não chore meu amor, não faça isso comigo, eu não estou embriagado, é que eu tomei um trago com meu melhor amigo. Sou louco por ti meu amor, veja... não esqueci de trazer-te uma flor como prova deste amor que sinto por ti” . Cantou inteirinha! Quando ele percebeu que eu não conseguia dormir, resolveu me contar uma história, um encontro de amor, ocorrido em Caruaru; ela começava com a chegada do mocinho na cidade. Passo agora, a transcrever as palavras dele. “Desci na estrada, como era de costume. Andei até a parada do ônibus e quando dei com a mão aquele burrinho de patas dianteiras rebaixadas e cromadas parou ao meu sinal. Subi no lombo do burro e encaminhei-me pela rua, deixando um rastro de bosta por onde passava. Cheguei ao hotel, aquele tapete vermelho... com um rasgo bem no meio. De repente aquela moça veio me atender e disse com aquele sotaque nordestino: ara, não se acomode pru mode disso. Levou-me ao quarto de luxo, um ventilador e uma cama. Saímos do quarto e me levou ao banheiro no fim do corredor. Lembro-me... ao entrar no banheiro levantei a tampa da privada... estava cheia de bosta, até em cima. Foi quando ela me disse: não se desespere. Abriu o armário... estava cheio de penico, de cima a baixo. Dentro do banheiro comecei a sentir aquelas dores e pedi que ela saísse. Abri o armário e saquei um penico todo melado. Ao terminar aquela grande obra, tentei me desfazer da mesma. Olhei pela parede e vi aquela janela. Daí vi que era por ali que a bosta ia desaparecer. Peguei o penico e joguei janela abaixo, quando ouvi aquele grito: Oche, tá chovendo merda! Voltei para o quarto meio melado. Atirei-me na cama quando a mesma desabou. Estávamos eu, o colchão e o estrado no chão. Pensei: este é meu hotel! Quando, de repente, me lembro de ter que acordar as 7h. Olhei para um lado, olhei para o outro, nada de telefone, nada de interfone. Quando escuto do quarto aquela suave voz dizendo aos berros: ACORDE-ME AS 6. Abri a porta e disse em seguida: ACORDE-ME AS 7! Foi uma noite longa, cheia de mosquitos e marimbondos. Lembro-me de sentir o cheiro do café preparado na noite anterior. Aquele cheiro de ovo, de fubá, de leite fervendo...” Eu não acreditava em tudo que estava escutando; pena que eu não possa passar a entonação. Ria... pedia para ele parar... queria dormir. Arghh! O resto da história eu conto amanhã, pois é muito longa e eu dormi antes do final, mas ele me prometeu continuar hoje de noite.