Parei de ficar só pensando e começei a escrever.

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14.6.06

O Galo

Depois de anos seguidos de convites e recusas, resolvi conhecer o Galo da Madrugada in loco. Para quem não conhece (o que acho quase impossível) é o maior bloco carnavalesco que se tem conhecimento. Estava numa fase super feliz, de bem com o mundo e com todos. Isso é um aspecto importante para quem se dispõe a tal experiência. Minha filha, Bi, ia e insistiu para que eu fosse com ela. Confesso que fui também com um espírito protetor. Compramos ingresso de um dos camarotes, perucas coloridas, camiseta de alçinha, bermuda e chinelos. A calor prometia ser brutal. Saímos às 7h da manhã, de ônibus. Impossível chegar lá de carro. Quando chegamos no camarote vimos que era o primeiro da rua de trás da passarela do galo. Enfim, era o que ela tinha conseguido comprar. Frustradas, fomos dar uma volta, pois ainda era muito cedo. O Galo começava só às 9h. Passamos por um dos camarotes mais badalados, deu cinco minutos na Bi e ela me disse: Mãe vamos vender esses ingressos e comprar deste camarote com os cambistas. Bichinha determinada essa. Para resumir tanto vai e vem, ela venceu os dois lados pela persistência. Encheu tanto o saco que conseguiu vender e comprar os novos pela metade do preço, perto da hora de começar. Os fogos estouraram, corremos para dentro do camarote que, na verdade, era um terreno grande com uma pequena tenda armada no meio e um palco para as bandas convidadas que iriam tocar nos intervalos dos trios. Comecei a ficar desconfortável às 11h da manhã. A quantidade de pessoas era assustadora, o barulho do palco tocando concomitantemente com os trios elétricos (intervalos teóricos) estavam me deixando meio tonta, surda, desarvorada. Não conseguia definir que música tocava num e noutro. Como eu estava de bem com o mundo e com todos, resolvi tentar aproveitar. Ensaiei vários passos. Era impossível manter um ritmo: uma música em cada ouvido, estávamos enlatadas, não dava para ver nossos pés de tanta gente em tão pouco espaço, e olhe que o terreno era grande! Que fosse fora do ritmo mesmo, então. Começou a me dar claustrofobia. Saí de baixo da tenda e fui para céu aberto. Sol a pino. Vou ter uma insolação, pensei. Estava começando a me desesperar. Sem opção de saída, me esforcei. Olhei para os lados, para a rua, pensando numa saída. Naquele momento, não existia. E o Galo? Não ia passar? Já eram quase 3 da tarde e eu não tinha visto nada daquilo que ouvi durante anos. Totalmente fora de mim, disse a minha filha que ia embora, não agüentava mais, que o Galo fosse para aquele lugar. Paciência. Como sem ver o Galo mãe? Ele já passou faz uma data! EU NÃO TINHA VISTO O GALO? Indescritível o que senti naquele momento. Depois de tudo quanto passei não tinha visto o Galo? Meu estado de ânimo não melhorou nadinha quando lembrei o quanto teríamos que andar para poder tomar um ônibus de volta para casa, uns dois quilômetros mais ou menos, considerando que estava em pé desde as 8 da manhã (não tinha onde sentar no camarote, a imundice no chão era nojenta). Eu delirava em cima dos meus mais intensos desejos: um banho bem gostoso, uma roupa limpinha, cheirosinha, já podia sentir o cheiro do meu travesseiro de ervas... Já estava começando a ficar de mal do mundo e de todos. Consegui chegar em casa as 6 e meia da noite, exausta, dolorida, mal humorada, fedendo todos os suores possíveis e imagináveis, escandalosamente irritada depois de quase 2h num ônibus lotado, todo mundo imundo e cheirando nhaca. Fui tomar aquele banho, colocar aquela roupa limpa e não pude dormir. Fui cantar parabéns para meu neto que fazia um ano naquele dia. Galo da Madrugada? Tenho que responder?