Parei de ficar só pensando e começei a escrever.

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30.5.06

Café Paris.

Estava de férias em São Paulo, há uns bons anos atrás. Uma noite, fui ao Café Paris com um grupinho. Bem, o Café Paris ficava no Butantã, perto da entrada da USP, e era tudo de bom naquela época. Gente bonita, música gostosa ao vivo, músicos pra lá de interessantes, muito jogo de sedução, enfim, adorávamos estar naquele ambiente. Lá conhecemos músicos fantásticos como Renatinho Braz, o Bré e o Jeff que me hipnotizava com uma mecha de cabelo imensa usada como franja, com gel, separada do resto do cabelo por uma tiara. Mas aquela mecha me deixava encantada mesmo quando ele cantava “Nossa Gente” de Gilberto Gil. O visual era maravilhoso. Nunca consegui imitar o malabarismo que ele fazia com a cabeça só para dar movimento àquela mecha dura por conta do gel, e olha que ela mexia! Bom, mas voltemos àquela noite no Café Paris. Estávamos sentados numa mesa no térreo quando a porta abriu e adentrou um Deus Grego, um Apolo. Dizem que eu tenho um gosto pra lá de duvidoso, que ele não era nenhum Apolo. Eu achava. Na hora que eu olhei para ele, pensei: esse é o homem que gostaria de ter ao meu lado para sempre. Só que eu pensei falando alto e uma amiga disse a frase mágica: eu conheço ele.Para encurtar a história, ela o chamou, nos apresentou e convidou-o para sentar-se em nossa mesa e é claro que ele aceitou e é claro que só tinha um lugar disponível na mesa – ao meu lado. Essas “coincidências” da vida, previamente arquitetadas. Conversamos bastante, demos muitas risadas. Aí, bem... aí ele me convidou para dançar. Mas como? No Café não tinha espaço para dança! Não era um lugar para se dançar! A gente inventa um espaço, disse ele animadíssimo, já balançando o corpo. Ok, valia tudo para estar mais íntima dele, até chamar a atenção de todo mundo do Café, pois ninguém estava dançando. Só nós. Não estávamos num café dançante! Bom, quem já não passou por uma situação destas por uma grande causa? Satisfiz os desejos dele de dançarino (ele “fazia” dança de salão) e voltamos para a mesa. Resumindo novamente, nossa noitada terminou às 3h da madrugada, ele levemente embriagado, querendo que eu fosse para seu apartamento. Não quis, não curto homem embriagado. Aí ele resolveu querer me ensinar a dançar forró, sem música, no meio da rua, na frente do Café Paris, afinal de contas ele era bamba em qualquer tipo de dança, pois “fazia” dança de salão não é? Eu deixei. Quando ele terminou, perguntou: e aí, gostou? No que respondi muito delicadamente: Não. Faltou uma coisa fundamental, o encaixe das pernas. Já vi que só o nordestino sabe fazer isso e muito bem feito. Você não encaixou nada. Nunca mais vou esquecer da expressão boba que ele fez, indescritível. Soube dois dias depois, pois é óbvio que nós dois saímos, que ele tinha achado demais o que eu tinha falado sobre o encaixe das pernas. Tinha achado super sensual. Último resumo da história, vinte dias depois, mudei para São Paulo; precisava ensinar o Apolo como se dançava um forró de verdade.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi tia! Fiquei muito feliz em saber que estás escrevendo. Vou comentar seus textos aos pedaços, todos nesse mesmo.

É interessante conhecer esse lado mais íntimo de uma pessoa que me proveu sangue, mesmo que indiretamente. Saber as origens de pessoas próximas, como elas são. Ainda mais nos Visani que, por essência, são bem fechados. As pessoas com quem pude aprender algo da família sempre foram você e a vovó. O vovô morreu sem eu conhecê-lo a fundo, mesmo tendo 19 anos quando da sua morte. Isso me frustra por um lado, mas por outro serve meio que para mistificar. Quando do aniversário do vô na semana passada, eu chorei. Bateu a saudade, daquele avô que minhas irmãs chamam de moranguinho, aquele senhor magro que tive poucas oportunidades de ficar junto, pela distânica, que ficava andando pela casa, cheio de suas particularidades, como um bom Visani, todos bem distintos entre si, mas com características enraizadas em todos, uma espécie de marca no DNA.

Chorei, talvez por ter me tocado que não mais o veria, ouviria sua voz, embora ela esteja fresca na minha memória, nossas últimas converss bem guardadas, seu jeito totalmente dele, não sei explicar. Talvez a junção de tudo, talvez seja exatamente o nada que acontece agora que eu quero ver meu avô. Essa impossibilidade, essa barreira.

Pouco após sua morte, sonhei com ele. Estávamos num carro, meu pai na direção, ele no passageiro e eu no banco de trás, com a cabeça entre os bancos. OS 3 conversando. Ele falando que estava bem, contando um pouco. E, de repente, disse que estava com saudades e que tornaríamos a nos ver algum dia. Disse tchau e sumiu. Olhei pro pai, ele estava sorridente por ver o vô, e vê-lo bem. Mas em silêncio, sem falar nada, guardando sentimentos. Como um Visani.

Eu também penso muito quando me deito. Penso sobre diversas coisas. Planos de negócio, conversas corriqueiras, sonhos, vontades, erros. Fico pensanso minutos, horas a fio. Já me deitando e começar a pensar. Quando me decidi dormir, faltavam 20 minutos para a hora de acordar! Muitas vezes saem excelentes idéias mas, pelos mesmos motivos que você, elas se perdem, ou, ao menos, se ocultam, até um próximo momento inspirador.
Esse truque da vovó eu nunca soube! Mas até que não acho ruim ficar pensando. Sempre sai algo produtivo.

Beijos tia! Obrigado por me proporcionar esse espaço. Não só pelos seus textos maravilhosos, mas por também me fazer ver quem sou e como sou, sendo um anti-Visani nesses comentários, me expondo e sabendo quem sou.

30/5/06 11:56  

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