Parei de ficar só pensando e começei a escrever.

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24.8.06

Seu Jerônimo

Dias destes voltei para casa de ônibus. Consegui um lugar lá trás, na última fila de bancos. Minha estimativa de viagem era de uns 15 minutos, considerando um pouquinho de trânsito. Desta vez, quis que a viagem tivesse demorado muito mais tempo. Duas paradas depois da minha, subiu um homem miudinho (1,50m + ou -), cabelo tipo Roberto Carlos, bem vestido, roupa escura. Entrou calado, sentou nos degraus da porta de saída, tirou o sapato do pé direito e posicionou-o no degrau debaixo. Da mochila tirou um triângulo. Caramba, o que será que vem por aí? pensei. Quem conhece o interior de um ônibus sabe que tem uns trilhos no chão, principalmente nos degraus. Pois bem, ele posicionou o triângulo em cima do trilho, pé descalço no degrau debaixo. Eu só observava, curiosíssima. Que figura! Começa, então, o espetáculo. Sim, porque foi realmente um espetáculo. Está no ar a Raidio Supapo, um sucesso atrais do oitru. Nisso, o triângulo já está trabalhando numa harmonia perfeita com o trilho do degrau e com as batidas do pé descalço e a música que ele começa a cantar (que voz fantástica)... num me arranhe não minha gatinha (neste momento pensei que tinha um casal de gatos transando no ônibus, a gata aos gritos, pois a sonoplastia era perfeita)... o telhadio de laje güenta nóis... miauuuuuuuu.... shhhhiii....... fssssss..... Quando acabou esta música do casal de gatos, seu Jerônimo anunciou: a pedido do cobrador, vou cantar agora a música “O amor da muda e do mudo”. Lá pelas tantas a música dizia ... tava tão gostoso que a muda quase falou.... os mudos tem seus segredos... maaaaaaannnn..... mumhhhhhhhhhhh.... e por aí iam as trocas de juras de amor dos mudos. Pena que não deu tempo de anotar a letra das músicas, composições dele mesmo. Quando acabou, ele começou a passar nos bancos, sob aplausos, e receber o cachê daqueles que se dispunham a dar. Várias pessoas pedindo bis, ou pedindo outras músicas que já conheciam, sim, porque ele já era conhecido de muitos passageiros usuais dos ônibus. Quando estava chegando minha hora de descer do ônibus fiz questão de apertar sua mão e pedir que, por favor, não desistisse nunca. Seu Jerônimo, pessoa simples, mas que está escrevendo sua história. E que história! Agora, tenho prestado atenção em todas as paradas de ônibus, na esperança de encontrar Seu Jerônimo de novo. Preciso pedir um autógrafo para ele!